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A depressão e o sistema nervoso

4/30/2016

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A depressão é um fenómeno humano bastante complexo, causado ou influenciado por múltiplos factores, manifestando-se de diferentes formas nas pessoas. Devido a esta complexidade, não existe nenhuma causa que possa ser apontada como sendo exclusiva. Se é verdade que o funcionamento de alguns neurotransmissores encontra-se perturbado, também é verdade que as crenças que as pessoas têm sobre si, o mundo e o futuro são negativas. Se é verdade que na depressão é frequente a presença de um nível elevado de cortisol (a chamada hormona do stress), também é verdade que este estado de desânimo e desalento tende a ser precedida de alguns tipos de acontecimentos de vida (perda, humilhação e aprisionamento).

Independentemente da causa ou até mesmo da forma como a depressão se manifesta, por vezes existe uma atitude de minimização do sofrimento ou das limitações existentes de quem está deprimido. É neste contexto que surgem expressões como "Isso [da depressão] é manha", "Tens de ter força de vontade" ou "Isso é uma questão de atitude". Nada pode estar mais longe da verdade.

À medida que a depressão se "instala", ocorrem uma série de acontecimentos ao nível neuronal que justificam algumas das características que encontramos em alguém deprimido. À data, sabe-se que existem quatro áreas que se encontram alteradas e que explicam alguns dos sintomas e dificuldades vividas. A saber: o córtex pré-frontal, o córtex cingulado anterior, a amígdala e o hipocampo.

O Córtex Pré-Frontal tem um papel chave no planeamento e empreendimento de objectivos a longo-prazo, havendo uma diferença funcional entre o córtex pré-frontal esquerdo e direito. O hemisfério esquerdo está especializado nos objectivos que envolvem comportamentos de aproximação (por exemplo, procurar estar com pessoas próximas), enquanto que o hemisfério direito assume a responsabilidade por representar objectivos que requerem comportamentos de evitamento (por exemplo, evitar a rejeição). Na depressão, existem alguns dados que apontam para uma activação insuficiente do córtex pré-frontal esquerdo relativamente ao hemisfério direito, o que explica a predominância de emoções desagradáveis e a motivação baixa para intentar objectivos "positivos". A par deste dado, parece existir uma hiperactivação do córtex pré-frontal direito, resultando numa inibição comportamental excessiva. Deste modo, estas características neuronais parecem explicar (em parte) a razão pela qual é difícil a uma pessoa deprimida levantar-se da cama, sair de casa para estar com amigos ou envolver-se em novos projectos ou actividades: a forma como esta parte do cérebro está organizada naquele momento dificulta a expressão destes comportamentos.

O Córtex Cingulado Anterior é outra parte do cérebro que se encontra afectada aquando da depressão. Esta zona do cérebro tem um papel chave em situações de incerteza ou dúvida, funcionando como um sistema de monitorização que se torna activo quando existe alguma inconsistência no funcionamento neuronal, tal como entre percepções, expectativas e objectivos, mobilizando outras áreas do cérebro para resolver o conflito ou inconsistência. Assim, quando uma pessoa encontra uma situação adversa, a função do Córtex Cingulado Anterior é "recrutar" ou mobilizar outras áreas do cérebro, tal como o Córtex Pré-Frontal de forma a lidar eficazmente com o problema. Quando deprimido, esta área do cérebro não se encontra a funcionar de forma eficiente, resultando numa maior dificuldade em "ter força de vontade" para lidar com um problema, tendo provavelmente um papel importante na passividade ou resignação características da depressão.

A par destas zonas, o hipocampo apresenta alterações, havendo uma redução de volume (entre a 8% a 19%) em pessoas deprimidas, sendo plausível que esta redução de volume seja uma consequência da exposição prolongada à "hormona do stress", o cortisol. Acredita-se que esta alteração está implicada na tendência para lembrar excessivamente de acontecimentos pessoais negativos e interpretar informações positivas ou neutras de forma negativa. De certo modo, esta alteração parece justificar a tendência para "ruminar" com os mesmos assuntos e temas desagradáveis.

A última zona que parece estar modificada na depressão é a Amígdala. A amigdala é responsável pela monitorização e avaliação de todos os estímulos em termos da sua importância para os objectivos motivacionais de cada pessoa, sendo particularmente importante no processamento de estímulos associados a situações ambíguas, incertas ou surpreendentes. Em casos de estímulos de valor motivacional elevado (isto é, importantes para a sobrevivência, adaptação ou bem-estar), a amígdala responsabiliza-se que os mesmos são processados de forma mais profunda através de um aumento da activação cortical e monitorização vigilante do ambiente ao redor. Devido ao facto de as situações incertas envolverem frequentemente algum grau de perigo, a activação da amígdala tende a estar associada a emoções desagradáveis (por exemplo, o medo).

Tendo em conta que o cérebro de pessoas deprimidas tende a ter uma hiperactivação da amígdala, ocorre um estado de prontidão ansiosa elevado, com uma elevada sensibilidade a acontecimentos negativos. Ou seja, a pessoa tende a reagir com ansiedade a situações que normalmente não a desencadeariam.

Assim, se estiver deprimido ou conhecer alguém que o esteja, tente ser compassivo com estas dificuldades, se possível. Lembre-se que o sistema nervoso de quem está deprimido pode dificultar a realização das tarefas que parecem facílimas quando nos encontramos saudáveis e com bem-estar.

Principais referências bibliográficas:
- Grawe (2004) Neuropsychotherapy
- Greenberg e Watson (2006) Emotion-focused therapy for Depression

Foto: Edward Honaker


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    Filipe Bernardo

    ​Psicoterapeuta
    ​Psicólogo Clínico

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